quinta-feira, 8 de novembro de 2012

2010 – HAITI
Carol Guzy, Nikki Khan e Ricky Carioti (Washington Post) * Pulitzer



A foto mostra o garotinho Moise “Kiki” Joachin, com oito anos, sendo resgatado depois de oito dias preso sob o peso de escombros, sem comida, água, luz, nada... Seus olhinhos fundos pela desidratação tinham um brilho intenso - o brilho da esperança. E o seu sorriso triunfante, com os bracinhos abertos, comemorando a vida, cativaram o mundo, que a uma semana chorava a morte brutal de mais de 220 000 pessoas.

É uma foto simples, um pouco desfocada pela poeira dos escombros, mas simboliza a alegria e a esperança em meio a uma tragédia.

Além da centralidade de “Kiki”, há a presença também importante de dois bombeiros, Charles Dunic, de Nova York, e Brad Antons, da Virgínia, que passaram quatro horas escavando cuidadosamente os destroços para conseguirem, finalmente, chegar a Kiki e sua irmã.

Quando o chão começou a “dançar”, a mãe de Kiki, Gracia Raymond, fugiu da varanda do apartamento para procurar o filho de 5 anos, David, que tinha ido buscar água lá fora. Ensanguentada devido à queda de pedaços de prédios, começou a escavar freneticamente pelos destroços à procura dos seus outros cinco filhos. Não conseguiu achar nenhum.

O pai de Kiki, Odinel, estava preso no seu escritório, no serviço de alfândega do Haiti. Levou dois dias para encontrar a mulher. Quando ela lhe disse que cinco dos filhos estavam soterrados nos escombros da casa deles, Odinel entrou em desespero. “Pedi a um vizinho para me cortar a cabeça. Não tinha mais razões para viver”.

Durante oito dias, Kiki esteve enterrado entre as ruínas do prédio de apartamentos onde vivia. Ele e a irmã, Sabrina, de 11 anos, conseguiram permanecer num minúsculo espaço sob toneladas de destroços, onde mal se conseguiam mexer. Ali perto estava Titite, de 4 anos, e os corpos das outras irmãs: Yeye, de 9 anos, e Didine, de 15 meses.

“Quando a nossa casa caiu, pensei que ia morrer”, recorda Kiki. No quinto dia que passou sob os escombros, conta, “vi o meu irmão morrer ao meu lado”. Lembra-se de chorar enquanto Sabrina cobria o pequeno Titite com a sua camiseta.

Foi então que, no oitavo dia, uma vizinha que procurava os seus haveres ouviu Kiki pedir baixinho por água. Dois bombeiros, Charles Dunic, de Nova York, e Brad Antons, da Virgínia, passaram as quatro horas seguintes a escavar cuidadosamente os destroços para conseguirem chegar a Kiki e à irmã.

“Foi muito complicado fazer o garotinho sair”, explica Dunic, que na altura usava um capacete e uma máscara facial e empunhava uma britadeira. “Estávamos assustando-o”. Por fim, a tia de Kiki conseguiu acalmá-lo. Dunic desceu pelo buraco e entregou-lhe o menino.

À medida que Kiki era içado daquele buraco, o seu rosto rasgou-se num sorriso luminoso e abriu os braços num gesto de vitória.

No meio de uma tragédia que tinha ceifado a vida a 220 000 pessoas, o resgate com vida de Sabrina e Kiki foi uma boa notícia de que todos gostaram. “Eu sorri porque estava livre”, disse Kiki aos repórteres. “Sorri porque estava vivo”.

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