2010 – HAITI
Carol Guzy, Nikki Khan e Ricky Carioti (Washington Post) * Pulitzer
A foto mostra o garotinho Moise “Kiki” Joachin, com
oito anos, sendo resgatado depois de oito dias preso sob o peso de escombros, sem
comida, água, luz, nada... Seus olhinhos fundos pela desidratação tinham um
brilho intenso - o brilho da esperança. E o seu sorriso triunfante, com os
bracinhos abertos, comemorando a vida, cativaram o mundo, que a uma semana chorava
a morte brutal de mais de 220 000 pessoas.
É uma foto simples, um pouco desfocada pela poeira
dos escombros, mas simboliza a alegria e a esperança em meio a uma tragédia.
Além da centralidade de “Kiki”, há a presença
também importante de dois bombeiros, Charles Dunic, de Nova York, e Brad
Antons, da Virgínia, que passaram quatro horas escavando cuidadosamente os
destroços para conseguirem, finalmente, chegar a Kiki e sua irmã.
Quando o chão começou a “dançar”, a mãe de Kiki,
Gracia Raymond, fugiu da varanda do apartamento para procurar o filho de 5
anos, David, que tinha ido buscar água lá fora. Ensanguentada devido à queda de
pedaços de prédios, começou a escavar freneticamente pelos destroços à procura
dos seus outros cinco filhos. Não conseguiu achar nenhum.
O pai de Kiki, Odinel, estava preso no seu escritório,
no serviço de alfândega do Haiti. Levou dois dias para encontrar a mulher.
Quando ela lhe disse que cinco dos filhos estavam soterrados nos escombros da
casa deles, Odinel entrou em desespero. “Pedi a um vizinho para me cortar a
cabeça. Não tinha mais razões para viver”.
Durante oito dias, Kiki esteve enterrado entre as
ruínas do prédio de apartamentos onde vivia. Ele e a irmã, Sabrina, de 11 anos,
conseguiram permanecer num minúsculo espaço sob toneladas de destroços, onde
mal se conseguiam mexer. Ali perto estava Titite, de 4 anos, e os corpos das
outras irmãs: Yeye, de 9 anos, e Didine, de 15 meses.
“Quando a nossa casa caiu, pensei que ia morrer”,
recorda Kiki. No quinto dia que passou sob os escombros, conta, “vi o meu irmão
morrer ao meu lado”. Lembra-se de chorar enquanto Sabrina cobria o pequeno
Titite com a sua camiseta.
Foi então que, no oitavo dia, uma vizinha que
procurava os seus haveres ouviu Kiki pedir baixinho por água. Dois bombeiros,
Charles Dunic, de Nova York, e Brad Antons, da Virgínia, passaram as quatro
horas seguintes a escavar cuidadosamente os destroços para conseguirem chegar a
Kiki e à irmã.
“Foi muito complicado fazer o garotinho sair”,
explica Dunic, que na altura usava um capacete e uma máscara facial e empunhava
uma britadeira. “Estávamos assustando-o”. Por fim, a tia de Kiki conseguiu
acalmá-lo. Dunic desceu pelo buraco e entregou-lhe o menino.
À medida que Kiki era içado daquele buraco, o seu
rosto rasgou-se num sorriso luminoso e abriu os braços num gesto de vitória.
No meio de uma tragédia que tinha ceifado a vida a
220 000 pessoas, o resgate com vida de Sabrina e Kiki foi uma boa notícia de
que todos gostaram. “Eu sorri porque estava livre”, disse Kiki aos repórteres. “Sorri
porque estava vivo”.
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