terça-feira, 6 de novembro de 2012

1961 - GRAN CIRCUS NORTE-AMERICANO
 

O que era para ser uma inesquecível tarde de domingo com a estreia do Gran Circus norte-americano em Niterói, tornou-se o dia mais triste da história da cidade.

Num gesto de vingança, decorrente de um desentendimento com a administração, um ex-empregado, Dequinha (foto à esq.), ateou fogo à lona do picadeiro durante o espetáculo, dando início a um incêndio que logo atingiu dimensões incontroláveis. O tecido de cobertura, altamente inflamável, foi rapidamente tomado pelas chamas, caindo em gotas incandescentes sobre a plateia, onde se encontrava um público superior a três mil espectadores, em sua grande maioria crianças.

O pânico foi imediato. Chamas, fumaça, calor, gritos. Pessoas desesperadas buscavam as saídas, esbarrando-se umas nas outras e atropelando as que caiam no chão. O fogo, ao alcançar a cúpula da arena fez com que a lona desabasse. Quando chegou ao local o primeiro contingente do Corpo de Bombeiros, nada mais havia a fazer senão resgatar os sobreviventes, pois em pouco mais de 50 minutos, só restavam, além de destroços, corpos carbonizados e pisoteados. Além das quase 400 mortes registradas no local do incêndio, mais uma centena de vítimas não resistiu aos ferimentos e morreu nos dias subsequentes. Além do mentor do crime, réu confesso, dois outros cúmplices foram condenados.

O Gran Circus Norte-Americano estreou em Niterói no dia 15 de dezembro de 1961. Os anúncios diziam que era o maior e mais completo circo da América Latina – tinha cerca de sessenta artistas, vinte empregados e 150 animais. O dono do circo, Danilo Stevanovich, havia comprado uma lona nova, que pesava seis toneladas e seria de náilon - detalhe que fazia parte da propaganda do circo. O Norte-Americano chegou a Niterói uma semana antes da estreia e instalou-se na Praça Expedicionário, no centro da cidade. A montagem do circo demandava tempo e muita mão de obra. Danilo contratou perto de 50 trabalhadores avulsos para a montagem. Um deles, Adílson Marcelino Alves, o Dequinha, tinha antecedentes por furto e apresentava problemas mentais. Ele trabalhou dois dias e foi demitido por Danilo Stevanovich. Dequinha ficou inconformado e passou a ficar rondando as imediações do circo.

No dia da estreia, 15 de dezembro de 1961, o circo estava tão cheio que Danilo Stevanovich mandou suspender a venda de ingressos, para frustração de muitos. Nessa noite, Dequinha tentou entrar no circo sem pagar, mas foi visto e impedido pelo tratador de elefantes Edmílson Juvêncio.

No dia seguinte, 16 de dezembro, um sábado, Dequinha continuava a perambular pelo circo e começou a provocar o funcionário Maciel Felizardo, que era constantemente acusado de ser o culpado da demissão de Dequinha. Seguiu-se uma discussão e Felizardo agrediu o ex-funcionário, que reagiu e jurou vingança.

Na tarde de 17 de dezembro de 1961, Dequinha convidou José dos Santos, o Pardal, e Walter Rosa dos Santos, o Bigode, com o plano de colocar fogo no circo. Eles se encontraram em um local denominado Ponto de Cem Réis, no bairro Fonseca, e decidiram pôr em prática o plano de vingança. Um dos comparsas de Dequinha, responsável pela compra da gasolina, advertiu o chefe sobre a lotação esgotada do circo e o iminente risco de mortes. Dequinha, porém, estava irredutível: queria vingança e dizia que Stevanovich tinha uma grande dívida com ele.

Com 3000 pessoas na plateia, faltavam vinte minutos para o espetáculo acabar quando uma trapezista percebeu o incêndio. Em pouco mais de cinco minutos, o circo foi completamente devorado pelas chamas. 372 pessoas morreram na hora e, aos poucos, vários feridos morriam, chegando a 500 o número de vítimas fatais, das quais 70% eram crianças. A lona, que chegou a ser anunciada como sendo de náilon, era, na verdade, feita de tecido de algodão revestido de parafina, produto altamente inflamável.

Com base no depoimento de funcionários do circo que acompanharam as ameaças de Dequinha, ele foi preso em 22 de dezembro de 1961. Os cúmplices Bigode e Pardal também foram presos. Em 24 de outubro de 1962, Dequinha foi condenado a dezesseis anos de prisão e a mais seis anos de internação em manicômio judiciário, como medida de segurança. Em 1973, menos de um mês depois de fugir da prisão, foi assassinado. Bigode, por sua vez, recebeu 16 anos de condenação e mais um ano em colônia agrícola. Finalmente, Pardal foi condenado a 14 anos de prisão e mais dois anos em colônia agrícola.



O PROFETA QUE NASCEU DAS CINZAS


Entre as tantas pessoas que se comoveram com a tragédia de Niterói estava José Datrino, um empresário do setor de transportes de cargas no Rio. Interpretando a queima do circo como uma metáfora do incêndio do mundo, sentiu-se chamado a abandonar o mundo material e se dedicar apenas ao espiritual. Assim, deixou tudo para trás e seguiu para Niterói, passando a viver como o Profeta Gentileza. E foi no próprio terreno do incêndio que começou a reconstruir o mundo, transformando o local num belíssimo jardim, e levando ao próximo seus ideais de gentileza e paz.

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