1912 - TITANIC
O RMS Titanic foi um navio transatlântico construído nos estaleiros da
Harland and Wolff em Belfast, na Irlanda do Norte. Na noite de 14 de abril de
1912, durante sua viagem inaugural, entre Southampton, na Inglaterra, e Nova
York, nos Estados Unidos, chocou-se com um iceberg no Oceano Atlântico e
afundou duas horas e quarenta minutos depois, já na madrugada do dia 15 de
abril. Até o seu lançamento em 1912, ele fora o maior navio de passageiros do
mundo.
Com 2.240 pessoas a bordo, o naufrágio resultou na morte de 1.523
pessoas, hierarquizando-o como uma das piores catástrofes marítimas de todos os
tempos. O Titanic provinha de algumas das mais avançadas tecnologias
disponíveis da época e foi popularmente referenciado como
"inafundável" - na verdade, um folheto publicitário de 1910, da White
Star Line, sobre o Titanic, alegava que ele fora "concebido para ser
inafundável". Foi um grande choque para muitos o fato de que, apesar da
tecnologia avançada e experiente tripulação, o Titanic não só tenha afundado
como causado grande perda de vidas humanas. O frenesi dos meios de comunicação
social sobre as vítimas famosas do Titanic, as lendas sobre o que aconteceu a
bordo do navio, as mudanças resultantes no direito marítimo, bem como a
descoberta do local do naufrágio em 1985 por uma equipe liderada pelo Dr.
Robert Ballard fizeram a história do Titanic persistir famosa desde então.
O fascínio pela trágica história do famoso transatlântico ficou
demonstrado quando da exibição do filme Titanic, de James Cameron. Exibido em
fins de 1997 e durante todo o ano de 1998, o longa-metragem de 194 minutos de
duração, com orçamento recorde de US$ 200 milhões, arrebatou 11 Oscars e
encantou plateias do mundo inteiro, resultando numa das maiores bilheterias da
história do cinema, somando um total de US$ 1,9 bilhões. Com o sucesso do
filme, o interesse pelo Titanic intensificou-se ainda mais, surgindo centenas
de livros, estudos, debates e novas teorias a respeito da causa do naufrágio.
Acima, a última foto tirada do Titanic em alto mar.
A construção do RMS Titanic, financiada pelo americano J. P. Morgan, começou
em 31 de março de 1909. Ele superou todos os seus rivais em termos de luxo e a
opulência. A seção da Primeira-classe tinha uma piscina, um ginásio, uma quadra
de squash, banhos turcos, banhos elétricos e o Café Verandah. As salas comuns
da Primeira-classe foram adornadas com painéis de madeira esculpidos, móveis
caros e outras decorações. Além disso, o Café Parisien oferecia culinária aos
passageiros da primeira-classe, com uma varanda iluminada pelo Sol. Havia
bibliotecas e cabeleireiros tanto na primeira como na segunda classe. A sala
geral da terceira-classe tinha painéis de pinheiro e móveis robustos. O Titanic
incorporou recursos tecnológicos avançados para a época. Ele tinha três
elevadores elétricos, dois na Primeira-classe e um na Segunda-classe. Ele
também tinha um subsistema elétrico alimentado por geradores a base de vapor,
uma fiação elétrica que cobria todo o navio e dois rádios Marconi, incluindo um
de 1.500 W manejado por dois operadores que trabalhavam em turnos, permitindo
contato constante e a transmissão de muitas mensagens dos passageiros.
Viagem inaugural
O navio iniciou a sua viagem inaugural de Southampton, na Inglaterra,
com destino à cidade de Nova York, nos Estados Unidos, na quarta-feira, 10 de
Abril de 1912, com o Capitão Edward J. Smith no comando. Assim que o Titanic
deixou o cais, sua esteira provocou a aproximação do SS New York, que estava
ancorado nas proximidades, rompendo as suas amarras e quase se chocando com o
navio, antes que rebocadores levassem o New York para longe. O incidente
atrasou a partida em meia hora. Depois de atravessar o Canal da Mancha, o
Titanic parou em Cherbourg, França, para receber mais passageiros e parou
novamente no dia seguinte em Queenstown (hoje conhecida como Cobh), na Irlanda.
Já que as instalações do porto em Queenstown eram inadequadas para um navio de
seu tamanho, o Titanic teve de ancorar ao largo (fora do porto), com pequenos
botes levando os passageiros e bagagens até ele. Quando finalmente partiu para
Nova York, havia 2.240 pessoas a bordo.
John Coffey, um foguista de 23 anos, saltou para fora do navio em Queenstown,
escondendo-se em um dos botes no meio das sacolas de cartas que estavam
destinadas ao continente. Nativo da cidade, ele provavelmente se juntou ao
navio com essa intenção, porém mais tarde ele afirmou que o motivo dele ter
saído do Titanic era um mau presságio que havia tido. Mais tarde, Coffey se
juntou à tripulação do Mauretania.
Naufrágio
Ao anoitecer de domingo, 14 de abril, a temperatura tinha caído para
quase congelamento e o oceano estava calmo. A Lua não era visível (estando dois
dias antes da Lua Nova), e o céu estava limpo. O Capitão Smith, em resposta aos
avisos de icebergs recebidos pelo rádio nos dias anteriores, traçou um novo
curso que levava o navio um pouco mais o sul. Às 13h45 daquele dia, uma
mensagem do Amerika avisou que grandes icebergs estavam no caminho do Titanic,
porém, já que Jack Phillips e Harold Bride, os operadores do dispositivo
Marconi de rádio, eram empregados da Marconi e pagos para retransmitir
mensagens de e para os passageiros, eles não estavam focados em retransmitir
para a ponte mensagens "não essenciais" sobre gelo. Mais tarde
naquela noite, outro aviso de um grande número de icebergs, desta vez do
Mesaba, também não chegou à ponte.
Às 23h40, enquanto navegavam a 640 km dos Grandes Bancos da Terra Nova,
os vigias do mastro, Frederick Fleet e Reginald Lee, avistaram um iceberg bem
em frente do navio. Numa foto (à direita) tirada em 15 de abril de 1912 pelo camareiro chefe do Prinz Adalbert, havia tinta vermelha igual à encontrada no casco do Titanic.
Fleet imediatamente tocou o sino de alerta do mastro três
vezes e ergueu o comunicador para falar com a Ponte. Preciosos segundos se
perderam até que o comunicador foi atendido pelo Sexto Oficial Paul Moody onde
Fleet gritou "Iceberg bem em frente". O Primeiro Oficial William
Murdoch deu ao timoneiro Robert Hitchens a ordem de "tudo a bombordo"
(esquerda), e ajustou as máquinas para ré ou para parar, o testemunho dos
sobreviventes é conflituoso. A proa do navio começou a deslocar-se do obstáculo
e, 47 segundos após o avistamento do iceberg, houve o choque. O iceberg
"arranhou" o lado estibordo (direito) do navio, deformando e cortando
o casco, e soltando os rebites abaixo da linha d'água por uma extensão de 90 m.
Enquanto a água entrava nos compartimentos dianteiros, Murdoch acionou o
fechamento das portas à prova d'água. O navio conseguiria ficar flutuando com
quatro compartimentos inundados, mas os cinco primeiros compartimentos foram
rasgados e estavam fazendo água. Os compartimentos inundados faziam a proa do
navio ficar mais pesada, causando a entrada de mais água. Vinte minutos após a
colisão, a proa já começava a inclinar. Além disso, por volta de 130 minutos após
a colisão, a água começou a passar do sexto para o sétimo compartimento sobre a
antepara que as dividia. O Capitão Smith, alertado pelo solavanco do impacto,
chegou à ponte e ordenou parada total. Pouco depois da meia-noite de 15 de
abril, após uma inspeção feita por oficiais do navio e por Thomas Andrews, foi
ordenado que os botes fossem preparados para lançamento e que sinais de socorro
começassem a ser enviados.
Os operadores de rádio Harold Bride e Jack Phillips estavam ocupados
enviando sinais de socorro CQD, e mais tarde SOS. Vários navios responderam ao
chamado, incluindo o navio irmão do Titanic, o Olympic, porém nenhum estava
perto o bastante para chegar a tempo. O navio mais perto a responder o chamado
foi o Carpathia, a 93 km de distância, que poderia chegar em quatro horas —
tarde demais para resgatar todos os passageiros do Titanic. O único local em
terra que recebeu o pedido de socorro do Titanic foi a estação de Cabo Race, em
Terra Nova.
Da ponte, as luzes de um outro navio podiam ser vistas no lado bombordo.
A identidade desse navio permanece um mistério até hoje, porém há teorias
sugerindo que o navio em questão era o SS Californian. Já que o navio não
estava respondendo aos chamados do rádio, o Quarto Oficial Joseph Boxhall e o
Contramestre Rowe tentaram sinalizar com um lâmpada Morse e mais tarde com
fogos de artifício, porém o navio nunca respondeu. O Californian, que estava
por perto e havia parado pela noite por causa do gelo, também viu luzes à
distância. O rádio do Californian havia sido desligado e o operador havia ido
dormir. Pouco antes de ir dormir às 23h00, o operador do rádio do Californian
tentou avisar o Titanic de que havia gelo à frente, porém ele foi interrompido
por um exausto Phillips, que respondeu dizendo: "Cale a boca, cale a boca,
estou ocupado; estou trabalhando Cabo Race", referindo-se a estação de
rádio na Terra Nova. Quando os oficiais do Californian avistaram o navio, eles
tentaram sinalizar com uma lâmpada Morse, porém pareceu que não foram
respondidos. Mais tarde, eles notaram os sinais de socorro do Titanic sobre as
luzes e informaram o Capitão Stanley Lord. Apesar de ter havido muita discussão
sobre o navio misterioso, que para os oficiais em serviço parecia estar se
movendo para longe, ninguém do Californian acordou o operador de rádio até de
manhã.
Botes lançados
Às 0h05, o Comandante Smith reuniu os oficiais e informou-os do
ocorrido. Solicitou que os passageiros fossem acordados e que se dirigissem ao
convés onde se encontravam os botes salva-vidas para serem evacuados. Sabiam
que o número de botes era suficiente para apenas pouco mais da metade das
pessoas a bordo e por isso pediu para não haver pânico. Os empregados começaram
a passar de cabine em cabine na primeira e segunda classes, acordando os
passageiros, solicitando para colocarem os coletes salva-vidas e se dirigissem
ao convés dos botes imediatamente. Enquanto isso, os passageiros da terceira
classe permaneciam reunidos e trancados no grande salão da terceira classe
junto à popa (parte de trás do navio). Muitos passageiros revoltaram-se, e
alguns aventuraram-se pelos labirintos de corredores no interior do navio para
tentar encontrar outra saída. Alguns conseguiram escapar com vida, mas muitos
deles acabaram sepultados dentro do Titanic. A evacuação havia sido feita de
acordo com as classes sociais a que os passageiros pertenciam, valor até então
aceitável.
Às 0h31, os botes começam a ser preenchidos com "mulheres e
crianças primeiro". Os primeiros botes foram lançados sem alcançar a
lotação máxima. Lightoller segue com rigor as ordens de embarcar somente
mulheres e crianças. Entretanto, a estibordo do navio o Primeiro Oficial
Murdock permitia a entrada de homens solteiros e casais nos botes, após a
entrada de mulheres e crianças, e fazia os botes descer completamente cheios,
mesmo com homens, e, por isso, muitos homens que se salvaram devem a sua vida a
esse oficial. Alguns sobreviventes relataram que a sensação ao caminhar no
convés de botes era como a de estar descendo um monte.
Como o navio mais próximo não respondia nem aos sinais do telégrafo nem
aos sinais da lanterna, às 0h45 o Capitão Smith manda disparar os foguetes de
sinalização. É arriado o primeiro bote salva-vidas nº 7, com apenas 27 pessoas.
A fim de evitar o pânico, o capitão solicitou que a orquestra de bordo viesse
tocar junto ao convés dos botes para acalmar os passageiros. A tradição diz que
a banda foi para o fundo a tocar "Nearer My God to Thee". Segundo o
testemunho do segundo operador de rádio, estava a tocar "Autumn", um hino
episcopal.
Enquanto isso, Thomas Andrews tentava ajudar do jeito que podia,
ensinando os passageiros a porem os coletes salva-vidas, mesmo sabendo que seu
esforço não salvaria muitas vidas.
Às 1h25, a inclinação do convés fica maior. Ordens são dadas para que
os botes desçam mais cheios. Thomas Andrews, o engenheiro-chefe, ajuda na
decida dos botes fazendo com que eles sejam devidamente cheios. A água já
atinge o nome do Titanic pintado na proa. O navio começa a se inclinar para
bombordo. Andrews é visto pela última vez na sala para fumantes da primeira
classe.
Enquanto que nos primeiros botes tinha que se implorar para que as
pessoas entrassem, fazendo muitos deles descer praticamente vazios, nos últimos
o tumulto era bem visível. Relatam-se tiros para conter os mais afoitos.
Faltando pouco mais de dois botes para deixar o navio, os passageiros da
terceira classe são liberados. Restavam apenas esses dois botes e os dois
desmontáveis que ficavam junto à base da primeira chaminé. Devido à confusão,
Lightoller sacode sua pistola no ar e provavelmente atira para manter o
controle durante a decida do desmontável ´´D``. A água gélida já invadia os
conveses quando os botes desmontáveis conseguiram ser lançados.
Minutos finais
Às 2h05, é arriado o último bote salva-vidas, o desmontável
"D", com 44 pessoas. Às 2h10, é enviado o último sinal pelos
telegrafistas. O Capitão Smith ordena "cada um por si" e não é mais
visto por ninguém. Já com a proa mergulhada no mar e a água a atingir o convés
de botes, o pânico é geral. Na primeira chaminé, os cabos de sustentação, não
aguentando mais a pressão sobre eles, arrebentam, e a chaminé tomba na água,
esmagando dezenas de pessoas nos conveses e na água, inclusive, John Jacob
Astor IV, homem mais rico no navio. O mesmo acontece com a segunda chaminé.
Às 2h15 a inclinação do navio chega aos 19° e a água gélida avança
rapidamente, arrasando tudo o que há pela frente. Muitos são sugados pelas
janelas para dentro do navio pela força das águas. A popa do Titanic sobe,
mostrando suas imponentes hélices de bronze. Heroicamente, os operários da sala
de eletricidade resistem até ao final para manter as luzes enquanto podem. Às
2h18, as luzes do navio piscam uma vez e depois apagam-se para sempre.
Quando a inclinação chega aos 29°, maior fica a pressão exercida no
centro do navio, que não suportando a pressão, sofre ruptura do casco junto à
terceira chaminé, dividindo o transatlântico em dois. A popa, pesando vinte mil
toneladas, desaba por cima de dezenas de passageiros, esmagando-os. Quando a
proa submerge, arrasta a popa ainda presa pelo casco duplo da quilha,
deixando-a quase na vertical; segundos depois, a proa desprende-se da popa e
mergulha para as profundezas. A popa então sobe alguns metros e fica parada.
Muitos passageiros se seguram como podem, enquanto alguns, não aguentando, caem
violentamente entre as ferragens do transatlântico. Depois de alguns segundos
emersa, a popa começa a descer, levando consigo dezenas de passageiros. Às 2h20
o navio mergulha a pique pelas profundezas do oceano.
Dos botes, os passageiros assistem às sombras do navio afundado para
sempre no meio de milhares de gritos de pavor e pânico. Mais de 1.500 pessoas
estavam agora lançadas à água congelante. Após a popa desaparecer, alguns
segundos de silêncio são seguidos por uma fina névoa branca acinzentada sobre o
local do naufrágio. Esta névoa foi provocada pela fuligem do carvão e pelo
vapor que ainda havia no interior do navio. O silêncio que parecia imenso deu
lugar a uma infinita gritaria por pedidos de socorro. Os que não morreram
durante o naufrágio agora lutavam para se manter vivos nas águas, tentando
agarrar qualquer coisa que boiasse. Aos passageiros dos botes não restava nada
a fazer a não ser esperar passivamente por socorro. Mas um bote não se limitou
esperar. O bote número 14 comandado pelo Quinto Oficial Harold Lowe
aproximou-se de outro, transferiu os seus passageiros e retornou ao local do
naufrágio para recolher alguns possíveis sobreviventes. Praticamente todos já
haviam morrido de hipotermia. Apenas 6 pessoas foram resgatadas ainda com vida.
Às 4h10, de 15 de abril de 1912, o navio Carpathia resgata o primeiro
bote salva-vidas. No local, apenas duas dezenas de botes flutuando dispersos
entre os destroços. Assim que os primeiros raios de Sol surgiram no horizonte,
outros navios começaram a chegar na área do naufrágio. Entre eles, o
Californian. Mas nada mais havia a fazer a não ser resgatar os corpos que
boiavam. O Carpathia rumou a Nova York com os
sobreviventes pelas 8h50. Das 2.223 pessoas a bordo, apenas 706 foram
resgatadas. No total, 1517 morreram.
Nenhum comentário:
Postar um comentário