1871 - D. PEDRO II NO EGITO
O imperador D. Pedro II apreciava uma boa leitura, era apaixonado pela
arqueologia, foi um grande estudioso de culturas e fascinado pelas antigas
civilizações, especialmente a do Egito, gosto herdado de seu pai Pedro I, o
fundador do Museu Nacional do Rio de Janeiro que conta com um belo acervo de
peças e múmias originais egípcias. Ele se interessava tanto pelas civilizações
antigas que até chegou a estudar hebraico e árabe.
Em 25 de maio de 1871, o imperador partiu em viagem, deixando o governo
sob as mãos da Princesa Isabel, que tinha apenas 24 anos. O imperador visitou Portugal, Espanha, França, Inglaterra, Bélgica,
Alemanha, Itália e Egito, retornando a Portugal. A viagem durou cerca de dez
meses. Quando desembarcou em Alexandria, em 28 de outubro, recebeu um telegrama
que o informava sobre a aprovação da Lei do Ventre Livre no Brasil no mês
anterior, o que rendeu muitos elogios à política do país por parte da imprensa
estrangeira.
De Alexandria ele seguiu para Suez e depois para o Cairo, onde visitou
as pirâmides dos faraós Quéops (que escalou com a ajuda de árabes e aproveitou
para descansar e fazer um lanche), Quéfren e Miquerinos, além da grande esfinge de Gizé. Desde 1856 ele
estudava a escrita hieroglífica e se correspondia há um ano com o alemão Émile
Charles Brugsch, um dos organizadores do Museu do Cairo.
A viagem suscitou uma charge publicada na Revista Ilustrada, mostrando
o imperador representado sob a forma da esfinge, fazendo alusão à sua viagem à
terra dos faraós. A imagem mostra o imperador com corpo de leão e sua cabeça
portando o nemes, usado pelos faraós egípcios. Na lateral do nemes o artista
deixou registradas as inquietações do povo a respeito da Questão Política,
Questão Militar e Questão Religiosa. No lugar do uraeus, a cobra sagrada, vê-se
o emblema da coroa brasileira. O povo aparece logo abaixo, fazendo suas
reivindicações.
O Museu Nacional, no Rio de Janeiro, tem em seu acervo mais de 700
peças do Antigo Egito. Quem já foi ao Museu sabe que lá estão centenas
de peças arqueológicas do Egito Antigo, incluindo sarcófagos, amuletos e,
claro, as famosas múmias. Ao todo, são mais 700 peças! Mas você já parou para
pensar em como elas saíram da África, viajaram o oceano e vieram parar aqui no
Brasil? Para responder a esta pergunta, nem é preciso que a nossa máquina volte
tanto no tempo. Basta irmos para o século 19, quando D. Pedro II era imperador
do Brasil.
Como tantos outros naquela época, D. Pedro II era fascinado pelo Antigo
Egito. E, provavelmente, a paixão veio de casa: seu pai, D. Pedro I, comprou,
em 1826, uma coleção de peças escavadas no Templo de Karnak – que ficava num
lugar hoje conhecido como Luxor. À época não se sabia, mas provavelmente ele
estava iniciando uma das mais antigas coleções egípcias da América Latina.
A coleção seria continuada pelo filho, que viajou duas vezes ao Egito,
a primeira em 1871, a segunda em 1876. Em suas viagens, ele comprou e ganhou
várias peças de presente. A sua favorita era a múmia de Sha-Amon-em-su, a
chamada “Cantora de Amon”. Por ser sacerdotisa e cantora no templo de Amon, ela
foi mumificada quando morreu.
Encontrada em Tebas, a múmia foi dada de presente a Pedro II em 1876
pelo governante egípcio Ismael. Um detalhe curioso é que a múmia foi dada ao
imperador do Brasil tal qual havia sido encontrada, ou seja, lacrada em seu
esquife – uma espécie de caixão. E Pedro II não cedeu à curiosidade de abri-lo!
Na época, a curiosidade sobre as múmias era tamanha que muita gente
abria os esquifes para ver como a mumificação era feita e descobrir mais sobre
a cultura e a religião dos egípcios. Pedro II, ao contrário, deixou-a intacta.
Ele gostou tanto do presente que o levou para seu gabinete, onde ficou
até 1889, quando foi proclamada a República e o imperador deixou o país. A
múmia foi incorporada à coleção do Museu Nacional, onde pode ser visitada até
hoje.
O sarcófago de Sha-amun-em-su é um dos poucos do mundo que ainda não
foram abertos. Mesmo assim, é possível ver os pés da múmia.
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